sábado, 15 de maio de 2021

O nobre sentimento de gratidão

Existem pessoas que reclamam da ingratidão. Algumas se afirmam desiludidas porque seus gestos de apoio e dedicação foram retribuídos com maldades e injustiças.

O bom, nisso tudo, é que é um número limitado de criaturas que ainda se permite contaminar pela ingratidão.

Quantos de nós recordamos pessoas queridas, que passaram por nossas vidas e deixaram o toque inconfundível de suas presenças, perfumando-nos as existências?

Uma revista de circulação nacional publicou, certa feita, uma carta recebida por uma grande editora brasileira. Dizia assim:

Prezado senhor. Tomo a liberdade de tomar seu valioso tempo para lhe contar uma historinha inusitada e quase inacreditável, não fosse o fato do senhor ter conhecido bem o personagem da mesma: o Sr. Victor, seu pai.

Eu morava numa vila, em fins da década de 40 e começo de 50 e a garotada de 8 a 10 anos chegava da escola, jogava a mala em casa e saía para brincar.

Era só o que queríamos. Mas, nas tardes em que saíam revistas na banca de jornais, não havia brincadeiras.

A garotada ia para a banca adquirir as revistas e se enfurnava em casa para se deliciar com as historinhas.

À tarde, nos reuníamos para os nossos comentários sobre nossos heróis.

Mas, logo depois, certas histórias eram interrompidas para continuar na semana seguinte. Nós nos sentimos ultrajados. E se não desse para comprar a próxima? Como ficaríamos?

Então, do alto de nossa autoridade de estudantes primários fomos reclamar na editora, instalada em acanhadas salinhas.

Fomos recebidos por um senhor alto e muito simpático que logo nos desarmou com um sorriso e nos convidou a sentar.

Em seguida, nos ofereceu água e nos fez diversas perguntas sobre as revistas. E, curiosamente, prestava atenção às nossas respostas.

Ele aproveitou a presença de duas "autoridades" de 8 e 9 anos para fazer uma das primeiras pesquisas de opinião do Brasil.

O autor da missiva concluía dirigindo votos de sucesso sempre maior à editora, dizendo que o fato aconteceu há mais ou menos 50 anos.

A carta poderia ser simplesmente considerada como um elogio à atitude de um homem de visão, um empresário bem sucedido.

Contudo, nas entrelinhas, o missivista deixa clara a sua emoção, o sentimento de gratidão a um grande homem que, um dia, parou tudo que estava fazendo, em seu escritório, e dedicou a duas crianças alguns minutos do seu precioso tempo.

* * *

Ouvir as opiniões das criaturas é sinal de sabedoria, pois sempre se pode colher flores onde menos se espera.

Deter-se e doar tempo aos pequeninos é sinal de grandeza, pois todos os que são verdadeiramente grandes conhecem a importância dos pequenos.

E a gratidão é sentimento nobre que brota, espontâneo, dos corações enriquecidos por emoções altruístas.

Constituem formas de gratidão o gesto de ternura, a expressão de afeto, o testemunho da simpatia e da solidariedade.


Redação do Momento Espírita, com base no verbete Gratidão, do livro Repositório de sabedoria, v.I, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal, e em artigo de Sergio Tiezzi, publicado na revista Caras. 














domingo, 2 de maio de 2021

O segredo da felicidade


Há muito tempo, em uma terra muito distante, havia um jovem rapaz, filho de um rico mercador, que buscava obstinadamente o segredo da felicidade.

Já havia viajado por muitos reinos, falado com muitos sábios, sem, no entanto, desvendar tal questão.

Um dia, após longa viagem pelo deserto, chegou a um belo castelo no alto de uma montanha.

Lá vivia um sábio, que o rapaz ansiava conhecer.

Ao entrar em uma sala, viu uma atividade intensa. Mercadores entravam e saíam, pessoas conversavam pelos cantos, uma pequena orquestra tocava melodias suaves.

De longe ele avistou o sábio, que conversava calmamente com todos os que o buscavam.

O jovem precisou esperar duas horas até chegar sua vez de ser atendido.

O sábio ouviu-o com atenção, mas lhe disse com serenidade que naquele momento não poderia explicar-lhe qual era o segredo da felicidade.

Sugeriu que o rapaz desse um passeio pelo palácio e voltasse dali a duas horas.

"Entretanto, quero pedir-lhe um favor." - completou o sábio, entregando-lhe uma colher de chá, na qual pingou duas gotas de óleo.

"Enquanto estiver caminhando, carregue essa colher sem deixar o óleo derramar."

O rapaz pôs-se a subir e a descer as escadarias do palácio, mantendo sempre os olhos fixos na colher.

Ao fim de duas horas, retornou à presença do sábio.

"E então?" - perguntou o sábio - "você viu as tapeçarias da pérsia que estão na sala de jantar?

Viu o jardim que levou dez anos para ser cultivado?

Reparou nos belos pergaminhos de minha biblioteca?"

O rapaz, envergonhado, confessou não ter visto nada.

Sua única preocupação havia sido não derramar as gotas de óleo que o sábio lhe havia confiado.

"Pois então volte e tente perceber as belezas que adornam minha casa." - disse-lhe o sábio.

Já mais tranquilo, o rapaz pegou a colher com as duas gotas de óleo e voltou a percorrer o palácio, dessa vez reparando em todas as obras de arte.

Viu os jardins, as montanhas ao redor, a delicadeza das flores, atentando a todos os detalhes possíveis.

De volta à presença do sábio, relatou pormenorizadamente tudo o que vira.

"E onde estão as duas gotas de óleo que lhe confiei?" - perguntou o sábio.

Olhando para a colher, o rapaz percebeu que as havia derramado.

"Pois este, meu rapaz, é o único conselho que tenho para lhe dar: - disse o sábio - o segredo da felicidade está em saber admirar as maravilhas do mundo, sem nunca esquecer das duas gotas de óleo na colher."

Pense nisso!

Vivemos em um mundo repleto de atrativos e de propostas sedutoras.

Há milhares de maneiras de gastarmos nosso tempo, nossa saúde, nossa vida, enfim, com coisas belas e agradáveis, mas que, na verdade, podem nos afastar de nossos reais objetivos.

Cada um de nós carrega na consciência as missões que nos foram confiadas por Deus e as diretrizes para que as cumpramos satisfatoriamente.

É imprescindível alcançarmos o equilíbrio para que possamos viver no mundo, sem nos deixarmos seduzir por ele.

É urgente que tenhamos discernimento para que possamos admirar e aprender através das coisas do mundo, sem que negligenciemos, ou até mesmo abandonemos, nossos verdadeiros e inadiáveis deveres.


Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro como Atirar vacas no precipício, de Alzira Castilho, pp. 58/60.